Em virtude da relevância do tema, o destaque da semana fica por conta da reportagem publicada no O Correio do Povo de quinta-feira, 29 de junho de 2017, de autoria da jornalista Ana Paula Gonçalves, intitulada “OCP Infância traz outra visão para a educação infantil”. O jornal ‘crianceiro’ OCP Infância é uma substancial evolução do OCP Kids, cuja tiragem mensal de 25 mil exemplares, circula gratuitamente, há seis anos, nas escolas públicas e privadas de nossa microrregião da Amvali.
Seu novo planejamento, produção e edição estão a cargo de uma diferenciada equipe multidisciplinar de educação, que tem na coordenação o talento da pedagoga, bióloga e mestranda Helena Almeida. Orienta-se em um “jeito desacostumado de se pensar uma infância livre, plena, brincante, potente, autoral e produtora de cultura”, como bem enfatiza a pesquisadora.
Vale dizer que, se o conteúdo anterior dirigia-se exclusivamente para o sujeito passivo criança, com modesto olhar pedagógico, a nova proposta, imbuída de invariável e inquietante olhar crítico, volta-se para todos os agentes capazes de potencializar uma infância ‘desnormatizada’, pais, educadores, sociedade e a própria criança como protagonista.
Os destaques de capa da edição estreante já nos deram o tom dessa nova composição, quando propõe indagações do tipo: “o que você lembra do quintal da sua infância?”, ou, “você vive uma infância de quintal?”, ou ainda, “quanto tempo verde há na sua rotina semanal?, onde você brinca?”.
Concomitantemente a essas interrogações, a pesquisadora vale-se, providencialmente, da reflexão de Manoel de Barros: “Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há que ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores que as pedras do mundo”. Enfim, são insights que traduzem efetiva mobilização e consciência “por uma educação sensível”.
Prova disso está na gênese do projeto, que vem refutar o padrão de infância inventada, governada, formatada, própria da escola tradicional e de uma sociedade tecnicista caracterizada pela pressa. E quando falamos em ‘pressa’, fatalmente nos reportamos a ‘tempo’.
Somos regidos pelo tempo linear quantificador ‘kronos’, o tempo que é dinheiro, e orientados pelo tempo qualificador ‘kairós’, o da oportunidade. Tempos estes geradores de déficits de infância. Essas dimensões de tempo não se coadunam com o mundo da criança.
A visão que norteia esse antenado projeto é alicerçada na convicção de que a criança é sujeito de seu próprio tempo. Que ela seja regida pelo tempo ‘aión’, o da fruição, da experiência, o que lhe assegura autonomia e protagonismo em sua relação atemporal com o mundo.
Como bem observa Rubem Alves, “o tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”. Estamos de mãos dadas “por uma educação sensível”.